Esse é um assunto que eu queria abordar há bastante tempo, e quando pedi sugestões de vídeos, muitas pessoas pediram para falar sobre isso. Então, hoje vamos explorar o tema!
Antes de mais nada, quero deixar claro que não vou falar nada da minha cabeça. Vou me basear nas orientações da ESPEN (Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo) sobre alimentação e acompanhamento nutricional em pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII). Essas fases influenciam diretamente a digestão, a absorção e o impacto nutricional no paciente.
O que é a Doença Inflamatória Intestinal?
As doenças inflamatórias intestinais são condições em que o trato gastrointestinal, o principal responsável pela digestão e absorção dos nutrientes, sofre com inflamações crônicas. Isso pode trazer consequências nutricionais importantes.
As principais doenças inflamatórias intestinais são:
- Doença de Crohn: Pode acometer qualquer parte do trato digestivo, desde a boca até o ânus. Por isso, tem maior potencial de comprometer a nutrição, especialmente quando afeta o intestino delgado, onde ocorre grande parte da digestão e absorção.
- Retocolite Ulcerativa: Afeta o reto e outras partes do cólon (intestino grosso). Apesar de ser mais restrita, também pode ter manifestações graves que comprometem o estado nutricional.
Ambas as doenças possuem duas fases principais:
- Fase ativa: Quando há inflamação intensa e sintomas agravados.
- Fase de remissão: Quando os sintomas estão controlados.
Além disso, manifestações extraintestinais, como alterações hepáticas ou biliares, podem agravar a má absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K).
Avaliação Nutricional é Essencial
Uma das primeiras recomendações é que todo paciente com diagnóstico de Doença Inflamatória Intestinal passe por uma avaliação nutricional detalhada. Isso é fundamental porque essas doenças podem causar diferentes tipos de desnutrição:
- Calórica-proteica: Perda de peso e massa muscular.
- Específica de nutrientes: Deficiência de vitaminas e minerais, como cálcio, magnésio, ferro e vitamina D.
No caso da Doença de Crohn, que pode acometer partes específicas do intestino, a deficiência de nutrientes será proporcional à região afetada. Por exemplo, o íleo terminal é responsável pela absorção de sais biliares e vitamina B12; sua inflamação pode causar diarreia e carências nutricionais específicas.
Necessidades Nutricionais na Fase Ativa
Na fase ativa da DII, o paciente frequentemente apresenta:
- Maior necessidade proteica: Devido ao aumento do turnover de proteínas (processo de quebra e reconstrução no organismo). Isso pode levar à perda de massa magra e maior vulnerabilidade à desnutrição.
- Redução na ingestão calórica: Sintomas como dor abdominal, diarreia e falta de apetite contribuem para a diminuição da ingestão de alimentos.
Embora estudos mostrem que o gasto calórico basal não aumenta significativamente durante a inflamação, a má ingestão e a má absorção podem levar a déficits calóricos e nutricionais.
Estratégias Alimentares
1. Suplementação de Nutrientes:
A suplementação deve ser personalizada com base em deficiências detectadas. Ferritina, vitamina D, cálcio, zinco e ácido fólico são micronutrientes comumente afetados.
2. Proteínas:
Embora o consumo proteico deva aumentar, é necessário cautela. Dificuldades digestivas podem exigir fontes de fácil absorção e distribuição adequada ao longo do dia.
3. Restrições Temporárias:
Na fase ativa, alguns alimentos podem ser mal tolerados:
- Lactose: A inflamação pode causar intolerância temporária à lactose.
- Gorduras: Especialmente em casos de comprometimento do íleo terminal, onde a absorção de gorduras e sais biliares está prejudicada.
4. Dieta Normal na Remissão:
Na fase de remissão, a dieta pode ser ampla e variada. No entanto, é fundamental adotar padrões saudáveis, como o consumo de vegetais, frutas, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis (ex.: azeite de oliva e peixes ricos em ômega-3).
5. Probióticos:
No caso da Retocolite Ulcerativa, algumas formulações específicas de probióticos têm mostrado eficácia na manutenção da remissão.
O Papel da Alimentação na Prevenção
Embora a alimentação não seja capaz de evitar ou curar a DII, estudos indicam que dietas ricas em vegetais, frutas, grãos integrais e fontes de ômega-3 (como peixes) estão associadas a um menor risco de desenvolvimento dessas doenças. Por outro lado, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, gorduras saturadas e carne vermelha processada pode aumentar a inflamação no organismo.
Conclusão
A Doença Inflamatória Intestinal exige atenção nutricional contínua e individualizada. Alguns pontos importantes são:
- Fazer uma avaliação completa para detectar carências nutricionais.
- Adaptar a dieta de acordo com a fase da doença e a tolerância do paciente.
- Garantir o consumo de alimentos saudáveis e reduzir processados.
- Contar com o acompanhamento de um nutricionista ou
médico especialista para evitar complicações nutricionais a longo prazo.
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